domingo, fevereiro 02, 2014

Alabama Monroe



A Bélgica não é o Kentucky ou o Alabama, dois dos estados norte-americanos onde se pode ouvir com mais frequência a chamada Bluegrass Music – um estilo musical derivado do Country e que pode ser resumida como música de raiz. Mesmo assim, é no interior do pequeno país europeu que uma banda de Bluegrass costuma se apresentar.

Pois serão justamente algumas belas canções desse estilo musical que irão ilustrar e pontuar a história de amor entre Didier (Johan Heldenbergh) e Elise (Veerle Baetens) no tocante filme Alabama Monroe.

Didier faz parte de uma banda de Bluegrass e é apaixonado pelo estilo de vida country. Elise é uma tatuadora profissional que até conhecer Didier mal sabia do que se tratava a música que ele toca. No entanto, eles vão se apaixonar, ela vai ser integrada à banda, eles vão se casar e ter uma filha, Maybelle (Nell Cattrysse). É dessa relação e dos momentos difíceis que o filme trata, fazendo da música um elemento fundamental de sua natureza.

A música em Alabama Monroe será algo como uma marcação de andamento, ou uma marca de transição. Presente o tempo todo, não será nunca protagonista e ao mesmo tempo será sempre um fundamento na construção dramática. Como se fossem pontos de arremate da trama, as canções surgem na interpretação e pontuação de momentos de alegria ou de tristezas e perdas.

Assim, as canções ajudam a compor uma textura que será desenvolvida em conjunto com um trabalho muito bem realizado de montagem, edição e construção não linear da narrativa. Uma textura que se apresenta como uma suave transição entre os diferentes momentos da trama, com avanços e recuos que jamais rompem a linha constante no andamento e a formação de um tecido de sentimento que a história tão bem constrói.

Ao contrário do que normalmente acontece com montagens não lineares, o filme não se apresenta como um quebra-cabeça, cujas peças vão se encaixando para revelar um todo surpreendente. Suas elipses, suas idas e vindas, se entrelaçam de forma tão suave e bem amarrada que a textura que se forma é como algo macio, uma dramaticidade que nos envolve sem pressa, nos conduzindo sutilmente para a comoção.

Esta desapressada cadência, contudo, não se confunde com lentidão. Por isso o grande destaque do filme é o modo como encontra um afinado ponto de equilíbrio em seu andamento. Não se nota nenhum desperdício de tempo. Cada cena tem a duração precisa para levar a história adiante sem perder sua capacidade de ambientar, de dar atmosfera e contornos para o sentimento de cada momento.

Sem tempos mortos, o filme prefere a agilidade: conduz sempre adiante sem fazer disso sobressalto ou pressa.

Pontuando tudo isso, estão as canções. Elas se integram bem encaixadas no tecido da história, e se por algum momento esbarram nalgum artificialismo, este se dilui no modo como elas funcionam dentro de uma dinâmica própria e consistente da proposta narrativa.

Assim, as lágrimas que Alabama Monroe termina por extrair do público não se apresentam com a imposição forçada ou a insistência artificial comum em melodramas ruins ou dramalhões exagerados. Em vez disso, a comoção se monta como algo até esperado, mas cuja pouca surpresa faz nos atingir com uma força particular, sem desespero.

Sua força dramática, emoldurada pela música e por um imenso carisma de seus personagens (mérito da dupla de atores e da ótima química que constroem), pode até ser fruto de algum artificialismo estético que tem na música e na montagem artifícios de encantamento. Mesmo que seja assim, o filme tem o definitivo mérito de sua grande capacidade de encantar e comover sem forçar limites, sem apelar para o mais fácil, fazendo de sua construção narrativa um suave ritmo de amor e sofrimento, como suas próprias canções.
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The Broken Circle Breakdown
Felix Van Groeningen
Bélgica/França, 2012
111 min.

Trailer

1 comentários:

Simone D'angelo disse...

Assisti este filme ainda nos EUA. Divertido, engraçado e sensível. Ideal para uma tarde de domnigo.

 

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