sexta-feira, agosto 09, 2013

No Lugar Errado

 Diferentemente de trabalhos anteriores, o terceiro filme dos irmãos Pretti e primos Parente se sai como um drama psicológico de camadas finas. A grande diferença de No Lugar Errado para o ótimo Os Monstros e o excelente Estrada para Ythaca, é o registro e a dinâmica cênica.

Isso porque, se neste novo filme permanece a amizade como pilar de sustentação das relações dos personagens, os complicadores agora nascem também dessas relações, apresentando um enriquecimento da “trama afetiva” que parece sempre permear a obra dos autores Pretti e Parente. Reflexo claro do modo de produção do coletivo a que pertencem, a Alumbramento.

Assim, em No Lugar Errado, sai de cena o confortável quase-lírico apaziguamento da amizade, entra a crise iminente.

Das mudanças, a mais drástica diz respeito ao espaço cênico. Com a virtude da experimentação, os diretores se uniram ao diretor teatral Rodrigo Fischcer e filmaram a partir de sua peça, chamada Eutro. Por isso, toda a ação se dá em um palco, um espaço cênico definido e restrito. Com minimalismo cenográfico, o espaço é um apartamento no qual um casal recebe outro casal para uma celebração.

Ali a noite adentra com uma densidade etílica, abrindo caminho para algo mais do que a simples alegria inicial. Gestos e diálogos insinuam sentimentos como mágoas retesadas no tempo ou tensões eróticas que afloram do proibido. Entre explosões insensatas, os personagens se revelam intimamente pelo espelho oblíquo de anseios particulares; misturam frustrações, ressentimentos e angustias com o prazer da amizade e da lealdade posta a prova todo o tempo.

Neste elaborado drama cênico, fogem à clareza, dão as costas ao óbvio e desafiam o consenso quando vão do afago á violência e de volta ao afago a cada nova fissura emotiva exposta pelo silêncio ou pelo grito.

O rigor formal dos planos, marcado pela fotografia em preto e branco, age como um aprisionamento dos quatro personagens. São prisioneiros do plano, do quadro e daquela noite em que revelam – fragilmente tentando esconder – tantas camadas de suas necessidades humanas, carnais e sentimentais, afetivas ou não.

O claro aspecto experimental de No Lugar Errado propõe o risco de errar. Fora do acomodamento, avança em terreno novo, pois se nos trabalhos anteriores dos diretores o conceito de "lugar" era ou amplo ou metafísico, aqui se mostra mais íntimo que nunca.

Talvez não funcione a contento como os outros filmes, mas se mostra vivo pela tentativa e pela disposição ao risco. De certa forma, aqui importa menos conceitos rígidos de erro e acerto (ou de lugar certo e lugar errado). Talvez valha mais a experiência e a busca de algo tão intangível quanto o cenário do filme ou uma estrada para Ythaca.
--
No Lugar Errado
Pedro Diogenes, Guto Parente, Luiz Pretti e Ricardo Pretti
Brasil, 2011
70 min.


Trailer

0 comentários:

 

Eu, Cinema Copyright © 2011 -- Powered by Blogger