segunda-feira, julho 23, 2012

Valente

 CRÍTICA PUBLICADA ORIGINALMENTE NO SITE CINECLICK

Mais do que uma animação para as crianças, Valente, novo longa da Pixar, se lança como uma aventura juvenil. Ao menos é o que faz crer o modo como o filme se vende. A aventura, contudo, fica pelo meio do caminho e o que se vê a partir de certo ponto é um enredo que desconstrói tudo que o filme construiu em seu início tão promissor.

Ambientado numa velha Escócia, a história é sobre Merida (voz de Kelly Macdonald), filha primogênita do rei Fergus (voz de Billy Connolly) e da rainha Elinor (voz de Emma Thompson). A jovem donzela nunca se interessou pelas obrigações e rituais de comportamento de uma dama. Sua realização sempre esteve na liberdade e na prática do arco e flecha, para desaprovação total de sua mãe.

É aí que está o conflito central de Valente. Como muitas adolescentes, Merida não aceita que sua mãe decida como ela deve se comportar ou se vestir. Não aceita, acima de tudo, que ela trace seu destino. Este conflito se agrava quando, pela tradição, os primogênitos dos reinos aliados devem disputar a mão de Merida em um torneio. Transtornada com os acontecimentos, a jovem tem uma séria discussão com sua mãe, foge sem direção e retorna com o que acha ser a solução de seus problemas. Mas a suposta solução dos problemas da jovem rebelde acaba sendo o início dos problemas do filme.

Valente cresce continuamente desde o princípio. Tem uma personagem forte, carismática e atrevida. Ela está disposta a romper com o que foi estabelecido antes dela e também com qualquer coisa que a impeça de escolher os rumos que quer para si. O conflito entre mãe e filha, desenhado com matizes fortes, promete uma aventura de drama convincente. Mas seria demais esperar de um estúdio de animação que tanta rebeldia fosse adiante por muito tempo.

Se o filme tomasse o rumo clichê desse tipo de história (garota rebelde foge, se perde, enfrenta problemas, se arrepende e retorna com a lição aprendida), ao menos restaria a aventura. No entanto, o roteiro do filme toma um rumo inesperado a partir de certo ponto e a história se encaminha por vias que põem a perder a vibrante e promissora primeira parte de Valente. Vai-se a aventura, fica o sentimentalismo conservador e quadrado.

O resultado é uma segunda parte muito mais fraca e sem muita conexão com o que foi ensaiado no início. Vendido como filme de aventura, Valente é na verdade um filme sobre a relação mãe e filha, tratada aqui pelo viés da mãe, como se ela tivesse sempre razão. 

A voz do filme fala muito mais à pré-adolescentes do que a crianças, que podem não se entusiasmar com o drama de Merida. Como toda animação atual, o filme estará disponível também em 3D, mas o efeito nada acrescenta, sua utilidade, neste caso, é só para quem fatura com o ingresso mais caro.
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Brave
Mark Andrews, Brenda Chapman e Steve Purcell
EUA, 2012
100 min.

Trailer

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