terça-feira, agosto 20, 2013

Bling Ring: A Gangue de Hollywood






“A sick fascination”. Um fascínio doentio. Esta pode ser uma boa forma de descrever como o mundo das celebridades, da moda e do luxo afeta algumas pessoas que se sentem irresistivelmente atraídas por esse universo.

Em Bling Ring: A Gangue de Hollywood, a diretora Sofia Coppola lança sua câmera para uma juventude contaminada por essa irresistível atração. Uma juventude que tenta ostensivamente mimetizar um estilo de vida glamoroso sem se preocupar com os limites entre o artificialismo, a banalidade e a atividade criminosa.

Um grupo de jovens passa a invadir mansões de celebridades para roubar. Esses roubos, no entanto, não se enquadram no simples perfil criminoso que visa só o lucro. Eles estão mais relacionados com a aventura e com a possibilidade desses jovens de chegarem mais perto de um universo revestido de joias, sapatos, roupas de grifes de luxo e de um estilo de vida que os fascina.

Mas o que começa como uma aventura na casa de Paris Hilton (que autorizou as filmagens em sua mansão verdadeira), logo passa a se tornar um hábito inconsequente e sem medida.

O filme se baseia em acontecimentos reais para traçar um perfil desolador de um tipo de juventude que age sob o efeito anestesiante do deslumbramento e da futilidade. Funciona, então, como uma narrativa que desconstrói o vazio encoberto pelo artificial e apresenta personagens tão descolados da realidade quanto os de filmes anteriores da diretora.

Esses desLOCAmentos e desCOLAmentos frente à realidade parecem ser o objeto favorito dos filmes da diretora, através dos quais ela apresenta personagens que transitam numa dimensão à parte; seja porque caíram perdidos e deslocados ante um lugar estranho, seja porque se descolam da realidade enquanto transitam no vazio existencial.

Se em seu filme anterior, Um Lugar Qualquer, Sofia nos imergia em um tipo de tempo dilatado pelo vazio na vida de um astro do cinema (com sua rotina desenganada de sentido, com sua simpatia letárgica e autômata), agora ela nos lança ao vazio que há também no outro lado do espelho.

Aqui, porém, o tempo não se dilata, ele é veloz, preenchido pela rotina entre escola, drogas, compras, festas, baladas e poses para fotos que serão postadas nas redes sociais.

Bling Ring revela comportamentos recorrentes de uma geração (ou parcela preocupantemente expressiva dela) deslumbrada com a aparência e com o status. Uma geração ocupada em disseminar um verniz de poder sedutor com a falsa sofisticação de grifes e de um estilo de vida agitado, que quer “fazer inveja” tanto quanto ele em si é reflexo de igual inveja disfarçada de admiração. O tal fascínio doentio.

Contudo, mais que exibir a valorização estúpida de símbolos de consumo de luxo e celebridades fúteis dispensáveis, o que este retrato traz é mais uma vez o aterrador vazio existencial de seus personagens. Há neles uma letargia diante da vida real, como se existissem em câmera lenta mesmo quando “vivem rápido e morrem jovens” como diz a letra de uma canção do filme.

No universo glorificado pelo supérfluo está a incapacidade de criar vínculos, de estabelecer amizades ou relações familiares sinceras, ou mesmo de serem autênticos.

Comparado com o viés contemplativo de outros filmes da diretora, há menos tempos mortos em Bling Ring. Fala-se mais, move-se mais. De forma inteligente, toda essa agitação não é mais que uma película que muito fragilmente cobre o devastador vazio. Aqui os personagens estão presos a uma artificialidade que pensam ser vida, mas que é outra coisa.

Sofia, contudo, não emite juízo sobre esses personagens. Evita um didatismo moralista, julgador e, consequentemente, simplificador. Sua narrativa explora apenas a idiossincrasia, uma existência cotidiana que revela o ridículo da superficialidade vaidosa e obsessiva. Uma narrativa de construção sem artifícios indutores para apontar e julgar.

Como em outros de seus filmes, a diretora estabelece sempre uma distância entre a intimidade e o caricato, uma distância segura e honesta ante seus personagens. Parte da solidez crescente de seu cinema está nesta qualidade de nos deixar entrever sem precisar apontar. Um recurso que aposta na inteligência do espectador e em sua capacidade de pensar.
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Bling Ring: A Gangue de Hollywood
Sofia Coppola
EUA/Reino Unido/França/Alemanha/Japão, 2013
90 min.

Trailer

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