quinta-feira, abril 18, 2013

Ginger & Rosa

A explosão populacional em alguns países após a Segunda Guerra Mundial ficou conhecida como Baby Boom, ou, “explosão de bebês”. Foi essa geração, nascida entre 1945 e 1963, o motor de grandes mudanças durante a efervescência dos anos 60 e 70. Estudiosos afirmam que diversas espécies, entre elas os humanos, se reproduzem mais quando se sentem ameaçadas de extinção.

É justamente em torno da ameaça de extinção que o filme Ginger & Rosa pretende trabalhar sua história, contando da amizade entre duas adolescentes, “nascidas no dia em que milhares morreram”: o dia em que foi lançada a bomba de Hiroshima. Essas são Ginger (Elle Fanning) e Rosa (Alice Englert), as filhas da bomba e que se verão novamente diante de igual ameaça em 1962.

Crescidas na Inglaterra pós-guerra, Ginger é introspectiva, dada à poesia. Como muitos de sua geração, tem pais jovens. Ele um escritor e professor universitário, ela dona de casa. Rosa é mais desinibida. Seus pais também são jovens, mas seu pai abandonou sua mãe muito cedo, deixando-as sós.

Inseparáveis desde a infância, elas vivem, assim como o resto do mundo, os dias de temor diante da iminência de uma guerra atômica. Trata-se da crise dos mísseis em Cuba, conflito diplomático entre que foi o auge da Guerra Fria e colocou o mundo à beira do holocausto nuclear em 1962. De uma bomba a outra, Ginger & Rosa se pretende um retrato e um olhar para aquela geração, a partir do medo e da liberdade dos anos 60.

Ginger encara seu medo como ativista, enquanto Rosa o esconde na sedução. Longe de sutilezas, o filme atravessa esses dias na vida das duas amigas alimentando uma iminente crise entre elas. A crise, natural da idade pela qual passam e acentuada pelo momento histórico de histeria, é a razão de ser do filme, mas não chega perto nem de traduzir o momento, nem de construir relações.

Com uma direção apática, feita de planos óbvios e montagem burocrática, Ginger & Rosa se revela abaixo do morno. Uma temperatura que contrasta com seu tema e com a época em que se passa. Tempo de efervescência, fundamentado em quentes ideologias e em uma geração que fez do temor da bomba e do repúdio à guerra o propulsor de mudanças sociais e lutas ferrenhas. Mas tudo isso fica distante do filme, que se desdobra sem emoções que traduzam seu tempo.

Sua principal falha, contudo, está na construção das relações. Não apenas entre as duas protagonistas, mas também entre outros personagens, como suas mães e o pai de Ginger. A frieza com que a trama é tocada pela diretora Sally Potter cria uma dramaturgia insossa, com personagens apáticos e desconectados. Não há conexão entre eles. Nem deles com o espectador.

O resultado é um filme sem vida, de roteiro promissor, mas mal resolvido. Das atuações automáticas e apagadas aos desdobramentos de seu final, vê-se no seu conjunto a intenção de ser um filme sofisticado e escrutinador de uma época e de seus efeitos. Mas na construção desse propósito o filme falha completamente.
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Ginger & Rosa
Sally Potter
Reino Unido/Dinamarca/Canadá/Croácia, 2012
90 min.

Trailer

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