segunda-feira, janeiro 13, 2014

Instinto Materno






Vencedor do último Festival de Berlin, Instinto Materno também foi a aposta da Romênia na disputa por uma vaga entre os indicados para Oscar de filme estrangeiro. Não ficou entre os nove finalistas, dos quais cinco serão, de fato, indicados a concorrer. Mas, para muita gente, ganhar Berlin faz do filme muito mais Cinema (com “C” maiúsculo) do que levar um Oscar.

De fato, Instinto Materno merece ser levado como cinema maiúsculo. O filme revela em sua narrativa algo semelhante ao que o filme brasileiro O Som ao Redor revelou sobre a sociedade local. Mas sua importância extrapola a localidade, porque o mal que ele desenha a respeito da Romênia pertence à quase todas as sociedades: as assimetrias das relações entre diferentes classes sociais.

Mas a comparação com o filme brasileiro deve parar por aqui. Porque se nesta construção o filme romeno é menos complexo, também acaba sendo mais contundente num primeiro momento. Não precisa, como o outro, de tempo para que as linhas sutis se tornem nítidas. É direto sem ser óbvio e seus desdobramentos nos atingem com força imediata.

O cenário é simples. Filho de uma família rica atropela e mata filho de uma família pobre. A partir dessa tragédia entra em jogo o poder, a influência, mas, principalmente, o olhar desumanizado de uma classe sobre a outra.

No entanto, o diretor Calin Peter Netzer não transforma a questão em um embate. O filme mantém seu olhar, na maior parte do tempo, dentro da família rica, revelando sua intimidade e suas fraturas. Ali, tudo orbita em torno da mãe, Cornelia (Luminita Gheorghiu), a matriarca controladora.

Barbu (Bogdan Dumitrache), é o filho, marmanjo para lá dos 30, que mantém contra a mãe uma rebeldia de almanaque, daquelas que dispara ofensas, mas não abre mão do dinheiro e da vida confortável. Neste caso, morar sozinho, ter seu carro e namorar uma garota que a mãe não aprova passa longe de ser alguma independência. Não passa de um fetiche ilusório de filho mimado.

Mas é Cornelia, na interpretação de Gheorghiu, a força do filme. Suas queixas contra o filho são uma falsa fragilidade que desaparece na hora de mandar no marido bundão, na hora de comprar uma testemunha, na hora de fazer o que for possível para livrar o filho da prisão. Nesta sua ação, deixa entrever a forma como se dão as relações sociais de classes. Isso está no modo como fala com a faxineira, como se impõe aos policiais e também ao tratar com a família da criança atropelada.

Assim, Instinto Materno mostra-se um drama de classe que desnuda na sua entrelinha relações de poder. Espanta, enquanto filme de uma cultura distante da nossa, como os tipos apresentados são comuns e reconhecíveis. Daí sua universalidade, ao mostrar a universalidade da discrepância entre classes. Mas também o estereótipo comum e incrivelmente irritante da mãe superprotetora e do filho mimado, boçal, incapaz de assumir as consequências de seus atos.
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Pozitia copilului
Calin Peter Netzer
Romênia, 2013
112 min.

Trailer

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