A “Nouvelle Vague” de Godard e Truffaut respira
tranquilamente em Frances Ha. Mais do
que respira, convive. Nem a força de sua clara deferência sufoca o filme, nem o
filme, com sua espontânea desenvoltura, sufoca aquilo a que remete. Nesta
relação, há como que uma troca, uma renovação articulada e independente que tem
assinatura, corpo, ritmo e vontade própria.

É também o deslocamento dos elementos do filme, a trilha
inesperada, a dança inesperada, a queda inesperada e uma certa ausência de
noção em gestos e palavras. São pequenos desencaixes, pequenas rupturas no
tecido do filme que se perderiam na referência estéril se não tivessem um
propósito estético e narrativo bem condensado e uma atriz iluminada como Greta.

Nestas alternâncias, alimentam-se os sonhos: ser aquilo que
se deseja ser, obter sucesso, reconhecimento. Mas têm também as contas, o
aluguel, a incerteza do trabalho, o desejo de encontrar alguém para se
apaixonar, a amizade ponta firme que não é invulnerável a abalos. As mudanças e
o tempo que são sempre incessantes.

No improvável, cria-se esta personagem que dança, quer
dançar, que muda-se, desloca-se e se perde sem perder a essência. Uma Frances sem
amargor quando fracassa, que aprende durante o filme o que se aprende durante a
vida.
Mantendo sempre um diálogo sem sustos com a “Nouvelle Vague”,
Frances Ha livra-se de qualquer
rótulo. Passa ao largo do cinema comercial ao mesmo tempo que se diferencia – em
oxigênio e criatividade – do cinema independente contemporâneo e seus
maneirismos à beira do clichê.

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Frances Ha
Noah Baumbach
EUA, 2012
86 min.
Trailer*
(*) Com legendas, aqui
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