quinta-feira, junho 14, 2012

Apenas Uma Noite



Não há qualquer novidade na frase fundamental de Apenas Uma Noite, dita no meio do filme: “Você pode estar feliz e ainda se sentir tentado”. Porém, ela se enquadra no tipo de verdade que, por mais óbvio que seja, precisa ser dita de vez em quando. No caso da muito bem ajeitada trama do filme, ela é a chave que abre a primeira porta de um pequeno labirinto a que todos temos acesso ao menos uma vez na vida: a tentação da infidelidade.

Joanna e Michael Reed (respectivamente Keira Knightley e Sam Worthington) formam um casal moderno de Nova York. Ela é uma escritora que produz artigos para revistas de moda enquanto tenta terminar seu novo romance. Ele trabalha para uma empresa de arquitetura na qual desenvolve projetos em equipe. Em suas vidas, tudo parece bem. São bonitos, bem sucedidos e felizes um com o outro.

Um pequeno complicador surge quando, em uma festa, Joanna conhece a nova colega de trabalho de Michael. Laura (Eva Mendes) é uma mulher muito atraente e Joanna acha naquele momento que o marido sente-se atraído pela colega. Há nesta cena um jogo sutil no modo como a câmera trabalha essa suspeita, captando trocas de olhares, flagrando situações muito tênues. Desenha-se ali a condução suave e inteligente que a diretora iraniana Massy Tadjedin dará a todo o filme. No fim da noite, o casal tem uma breve discussão sobre a suposta atração que Michael sente por Laura, especialmente porque na manhã seguinte eles viajarão juntos a trabalho.

O inesperado, no entanto, acontece com Joanna, que na mesma manhã seguinte encontra um antigo namorado. Ele a convida para se encontrarem a noite e ela aceita.

Começa então o jogo paralelo de sedução, tentações e diálogos francos entre os casais, cada um tendo a sua própria noite de provação. Não há, por nenhuma das partes, a negação da atração e do desejo que sentem e é esta franqueza que torna o filme mais interessante.

Apenas Uma Noite é um filme adulto, para adultos. Não se trata de mais uma história sobre relacionamentos, daquelas que tentam desconstruir a relação, revelar mecanismos ou trazer à tona mágoas e ressentimentos. É apenas um filme sobre algo simples, mas no íntimo complexo: a fidelidade diante do desejo. E apesar de não evitar algumas superficialidades, apresenta uma discussão muito honesta sobre a questão.

Mesmo com gênese para se tornar aquilo que pejorativamente se chama de “cinema falado” (quando as palavras se sobrepõem às imagens), a diretora consegue dar uma azeitada fluência à narrativa. Cria sutilezas, trabalha gestos, investe em ambientes diferentes, dá mobilidade a seus personagens.

Na construção da dúvida, na tensão criada pela possibilidade tão próxima entre prazer e culpa, Apenas Uma Noite se sai como um saboroso diálogo entre desejo e responsabilidade. Sem julgamentos morais e de forma franca, transmite através de seus personagens uma situação da realidade, com a qual relacionamentos sempre se deparam, mas raramente resolvem. Não seria, claro, um filme que o resolveria. Mas dá substância ao assunto ao retratar com sinceridade e delicadeza esta questão inevitável.
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Last Night
Massy Tadjedin
EUA/França, 2010
93 min.

Trailer

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