sábado, maio 26, 2012

Flores do Oriente


Quando o drama de Flores do Oriente finalmente nos fisga, já se passaram mais de uma hora e quarenta de filme e outros 40 minutos ainda estão por vir. É tempo demais para uma história engrenar ou dizer a que veio, mesmo se tratando de trazer à tona um fato histórico: o massacre promovido pelo exército japonês contra a população de Nanquin, na China, em 1937.

O chinês Zhang Yimou, diretor do filme, tem belos trabalhos no currículo, como Lanternas Vermelhas, Herói e O Clã das Adagas Voadoras. São obras que exibem um colorido vibrante, delicadamente orquestrado pela plasticidade do movimento – tanto dos corpos quanto da câmera. Mas nesta fita, Yimou deixa de lado esta plasticidade para revelar a violência e brutalidade da guerra. Mas para exibir este horror, parece ter aberto mão de contar uma história com personagens e dramas que traduzam ao espectador algum sentimento.

Historicamente, a invasão da cidade pelo exército japonês é conhecida por alguns como “estupro de Nanquin”, título que basta para ilustrar o tamanho da bestialidade cometida pelos soldados nipônicos às mulheres da cidade. No filme, durante a invasão, um convento para meninas órfãs é um dos poucos refúgios contra a barbárie dos invasores. Com o padre que cuidava do local morto, as meninas esperam, aterrorizadas, a chegada de um coveiro que enterre o corpo do padre. Este coveiro é John Miller, aqui interpretado por Christian Bale (que em 2011 levou um merecido Oscar pela sua atuação em O Vencedor).

À parte à péssima atuação que Bale entrega a este filme, a presença de seu personagem é um remendo de roteiro difícil de engolir. Ele é um sujeito mau caráter, beberrão e ganancioso que quer apenas fazer seu trabalho, receber por ele e dar o fora. Mas acaba ficando mais tempo no convento quanto um grupo de prostituas também busca refúgio no lugar. Neste microcosmo, um inevitável conflito entre as órfãs pudicas e as mulheres da vida surgirá, com o indiferente Miller no meio. Em paralelo, um soldado chinês faz de tudo para manter o convento livre da invasão bestial dos japoneses, enquanto tenta dar uma morte “confortável e aquecida” para seu companheiro de armas, mortalmente ferido.

Não é preciso muito tempo para perceber que o roteiro de Flores de Oriente é uma colcha de retalhos. Entre uma costura e outra, Yimou não se preocupa em ao menos dar algum estofo a qualquer personagem da trama. Nem Miler, nem qualquer menina órfã, nem qualquer prostituta demonstra alguma coisa além de estereótipo unidimensional Mas o filme ainda abusa da não verossimilhança, fazendo com que Miller, quase que por epifania, se torne numa pessoa altruísta, disposto a se esforçar na tentativa de ajudar o próximo.

Esquemático, o filme se arrasta até chegar ao ponto em que quer chegar. No caminho, abusa do melodrama, sem com isso comover de verdade. O tom sombrio e desolador do filme não basta para criar atmosfera e a figura de Christian Bale soa tão deslocada na trama e nas cenas, que torna ainda mais difícil entrar no clima. Claro que pela mão do diretor, algumas sequências são bem filmadas, exibindo sua virtuose para a intensificação do momento através da plasticidade do jogo cênico, ainda que siga abusando também da câmera lenta.

Se Flores do Oriente serve para alguma coisa, é para trazer à memória o vergonhoso fato histórico no qual o filme é ambientado. Tirando-se isso, fica apenas as costuras à mostra de uma mal remendada trama de melodrama e guerra, com um personagem fora de lugar em meio à superficialidade de personagens caricatos e padronizados.
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The Flowers of War
Zhang Yimou
China/Hong Kong, 2011
146 min.


Trailer

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