terça-feira, dezembro 18, 2012

O Homem da Máfia


Nesta segunda parceria entre o diretor Andrew Dominik e o ator Brad Pitt (a primeira foi em O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford, de 2007) há um tênue linha de humor que perpassa quase todo o filme. Em se tratando do submundo do crime, com bandidos rastaqueras e despreparados, o humor das situações remete ao cinema de Guy Ritchie, de Snatch – Porcos e Diamantes (2000).

Talvez este roteiro, nas mãos de Ritchie, que não costuma fazer filme pretensioso, funcionaria melhor. Porque é justamente a pretensão o que mais enfraquece o filme de Dominik, ainda que no geral este não seja um filme ruim.

Mate-os suavemente seria também título melhor, literal, em relação ao original em inglês, do que O Homem da Máfia. Matar suavemente é o que faz o assassino de aluguel Jackie, interpretado por Brad Pitt. Ele é chamado a New Orleans para descobrir e executar quem teve a audácia de assaltar uma casa de jogo clandestino cheia de mafiosos.

Na tarefa, diálogos cínicos a respeito da nação norte-americana e uma boa dose de violência estilizada, com direito a trilha sonora descolada e alguma câmera lenta.

Como se verá no diálogo final, O Homem da Máfia é um filme sobre economia,  sociedade, nação e mercado. Daí a pretensão, a de fazer de um filme de gangsteres uma intenção de crítica mordaz contra o cinismo do governo e mesmo do povo norte-americano. Fizesse apenas um filme de gangster, estaria de bom tamanho.

Esta pompa de crítica afiada se vê (e não demora a se desmanchar no superficial) logo nas primeiras cenas, quando a todo momento ouve-se o áudio de discursos do presidente Bush e do então candidato à presidência Barack Obama.

Sem grandes sutilezas, o filme cria um paralelo entre os assuntos do submundo, como o trabalho de Jackie, a postura corporativa da máfia e a questão do dinheiro, com as questões nacionais em debate no cenário político, como o pacote de cortes de gastos da economia e o risco de falência do sistema financeiro do país.

A intenção é boa, mas o resultado é falho, apesar de o ponto alto do filme, o diálogo final de Jackie sobre o que pensa dos EUA como justificativa para cobrar seu pagamento, ter um bom impacto.

O que atrapalha o filme não é apenas obviedade e a pretensão crítica, mas o desperdício de uma boa situação para se fazer um filme com estilo, extraindo da violência a mensagem que quer extrair dos diálogos. Toda a falação do filme, a despeito das boas atuações de James Gandolfini e Brad Pitt soa artificial demais.

Mesmo tropeçando na própria intenção, O Homem da Máfia é um filme que vale a ida ao cinema. Tem uma ótima trilha sonora, ótimas atuações e uma situação de comédia de erros, mas sem tanta comédia. Na verdade, seu tom de humor funciona bem. Dosado com critério para não atrapalhar a atmosfera da fita, este humor imprime aos personagens um tom real, absurdo como a realidade.

Com menos discurso e mais ação poderia ser um filme mais inteligente e muito mais divertido.
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Killing Them Softly
Andrew Dominik
EUA, 2012
97 min.

Trailer

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