quinta-feira, novembro 07, 2013

Gravidade

Claustrofobia, medo e tensão permanente atingem níveis sufocantes ao longo dos 91 minutos de Gravidade. Por meio de uma técnica impecável, o filme consegue proporcionar uma experiência visual deslumbrante e também assustadora, o que contribui para que uma outra experiência, a emocional, seja também convincente.

Para isso, o diretor mexicano Alfonso Cuarón lança mão da técnica, transformando seu aspecto puramente visual - que noutros filmes raramente vai além do meramente contemplativo - em uma representação sensorial capaz de nos absorver intensamente, e ainda a coloca a serviço da reconstrução do clássico embate homem versus natureza. Embate este que não é nenhuma novidade no cinema, mas que Cuarón repagina de forma muito inteligente.

Neste confronto clássico, nada de novo. Como sempre, a paisagem é tão deslumbrante quanto hostil. Saem de cena animais selvagens, desertos escaldantes, cordilheiras geladas ou mares revoltos. A 600 km da superfície da Terra, o desafio é a falta de gravidade, o oxigênio limitado, o silêncio desolador.

O experiente astronauta Matt Kowalski (George Cooney) e a Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock), novata em missões espaciais, fazem parte da tripulação do ônibus espacial Explorer, em órbita terrestre. Numa rotineira tarefa fora da nave, são surpreendidos por um acidente envolvendo satélites próximos, uma colisão que cria uma reação em cadeia lançando destroços em alta velocidade em sua direção.

Da destruição à deriva no espaço, Gravidade trabalha seu registro com uma eficiente imersão sensorial no drama dos personagens, em especial ao da Dra. Stone. Para conseguir esse efeito, o diretor usa com muito apuro o recurso do plano em sequência, montando sua narrativa em longos períodos sem cortes e fazendo uso bem dosado da câmera em primeira pessoa.

O resultado é de uma eficiência rara, capaz não apenas de nos absorver como de também nos impressionar. As sequências de destruição remetem ao que de melhor já se produziu no cinema em termos de catástrofe, mas com uma intensidade que apenas o efeito 3D, quando usado como meio, não como fim, pode proporcionar.

Parte do sucesso desse efeito imersivo se deve à construção sutil, ao modo como o diretor trabalha recursos técnicos. São transições discretas entre pontos de vista, aproximações que nos inserem, sem que percebamos, num claustrofóbico capacete espacial ou nos distanciam para uma perspectiva de terror e perigo iminente, na qual a profundidade de campo é essencialmente bem trabalhada.

Nesta elaboração imersiva, os efeitos sonoros complementam a atmosfera de sentidos. Do silêncio espacial aos sons ocos de movimento e impacto que se ouvem dentro de um traje espacial, passando pela sonoridade letárgica no interior de cápsulas sem gravidade ou o ruído incessante do rádio quando está funcionando, tudo contribui para nos envolver intensamente.

DRAMA
Todo esse conjunto de efeitos faz de Gravidade, acima de tudo, um trabalho de imersão, e como tal o filme se resolve de forma brilhante. Mas nada disso teria força sem uma linha dramática à altura. Nesse sentido, o filme tem seu aspecto menos brilhante, o que não quer dizer que seja ruim.

George Clooney cumpre com seu papel de carismático, enquanto Sandra Bullock segura com bastante afinco sua personagem, conduzindo seu esforço de sobrevivência de modo convincente. Mas o roteiro, na elaboração do drama e na personificação dessa mulher, não escapa a muletas sentimentais que, se não a enfraquecem, também não vão além de um aditivo dramático de potencial apenas apelativo.

Por outro lado, é justamente essa muleta que leva o filme a outro aspecto clássico do embate homem versus natureza, que é o esforço de sobrevivência ante a opção fácil de desistir. Daí que, a partir de certo momento, Cuarón concentra nesta personagem a mitificação do esforço de superação, representado com gigantismo épico na bela cena final. Um efeito que se equilibra entre o piegas e o grandioso, mas que convence na atuação de Bullock.

Ainda que deslize no apelo sentimental e numa discutível mensagem de superação, tudo em Gravidade funciona para fazer do filme uma experiência de compressão, dentro da qual somos levados a sentir o medo deslumbrante da morte na solidão no espaço. Uma experiência digna de ser vista em 3D, para que se possa aproveitar sua riqueza de detalhes.
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Gravity
Alfonso Cuarón
EUA, 2013
91 min.


Trailer

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