sexta-feira, agosto 02, 2013

Wolverine: Imortal

Neste segundo filme solo do personagem dos quadrinhos Wolverine, chega a ser uma surpresa o modo desapressado com que a trama é desenvolvida nos primeiros minutos.

Exatamente por ser um filme de super-herói – e, portanto, um filme de ação – Wolverine: Imortal surpreende por conseguir evitar a afobação que outras produções do gênero têm em começar logo a pancadaria e os malabarismos destrutivos. Aqui, o filme se preocupa antes em criar um cenário e dar vigor aos personagens da trama.

Por uma questão de gênero, naturalmente que a trama e os personagens não terão um desenvolvimento sofisticado, nem é o que se espera desse tipo de filme. Mas é evidente que há um cuidado maior em se criar dúvidas e ambiguidades, evitando o pastiche absolutamente oco tão comum em outros exemplos do mesmo gênero.

É assim que a trama se monta a partir de uma dívida de vida que Wolverine (Hugh Jackman) deixou no Japão durante a Segunda Guerra. É por essa dívida que ele é levado ao país oriental para encontrar seu credor que, à beira da morte e sendo dono de um imensurável império tecnológico, faz a ele uma inesperada oferta.

Há em todo esse primeiro terço do filme um bom cuidado em representar aspectos da cultura japonesa que, mesmo tratados a partir de conhecidos clichês do cinema pop, ainda assim surtem um significativo efeito de atmosfera e, principalmente, de propósitos que alimentam o desenrolar da história.

Mais do que a ambientação local, esse princípio consegue estabelecer certas dúvidas e indefinições, se aproximando até de num bom mistério com elementos do gênero policial, quase um filme dentro do filme, ao menos na atmosfera. É no desenvolvimento desses mistérios e na relação entre Wolverine e jovem Mariko (Tao Okamoto) que a produção exibe suas melhores qualidades. E mesmo a ação não se apresentando apressada e urgente, quando surge corresponde à expectativa.

Contudo, mesmo com tantos acertos, Wolverine: Imortal não escapa de algumas bobagens do gênero. Estão lá os vilões quase sem falas, cuja vilania não se sustenta pelas motivações, além daqueles constrangedores diálogos em que o vilão explica didaticamente seu plano antes de “terminar” com o herói.

Há ainda o ligeiramente repetitivo trauma do herói com a morte de sua amada Jean Grey (Famke Janssen), uma repetição que passa um pouco da conta, mas acaba servindo como uma boa conexão com o histórico do personagem, além de limpar o caminho para que a franquia siga adiante.

Como estrutura narrativa, o filme sofre uma queda considerável de qualidade a partir do último terço, especialmente a partir de uma cena em que Wolverine realiza uma tomografia em si mesmo e que é o ponto de virada da ação. Mas a partir daí o que conta é a ação e esta tem uma boa medida em ritmo, reservando até uma surpresa a respeito da mutação de Wolverine. Uma surpresa até óbvia, mas daquelas obviedades que só merecem esse nome depois que as notamos, daí ser uma boa surpresa e nem tão óbvia assim.

Wolverine: Imortal se mostra, portanto, muito superior ao primeiro filme solo do personagem. Seu roteiro, com elementos tirados de histórias clássicas dos quadrinhos pode até desagradar aos fãs mais exigentes quanto à fidelidade, já que o filme toma diversas liberdades em mudar aspectos das tramas originais. Mas a produção dá conta do essencial e, mais importante, faz o personagem dar um passo adiante na sua evolução dramática.
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The Wolverine
James Mangold
EUA, 2013
128 min.

Trailer

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