quarta-feira, setembro 18, 2013

O Último Desafio

 Mais até que seus companheiros de geração, Arnold Schwarzenegger é ícone de um tipo de filme de ação que rareia hoje em dia, atropelado por efeitos digitais e heróis de rosto delicado.

Pois é dobrando o cabo dos 65 anos de idade, e com o rosto ainda menos delicado, que o austríaco volta a protagonizar o tipo de filme que ele próprio simboliza.

Em O Último Desafio, tiros e pancadaria colocam Schwarzenegger no seu lugar natural: a ação. Mas o filme também o coloca, graças à articulação cinematográfica do diretor sul-coreano Kim Jee-Woon, em um subgênero inédito para o ator: o western spaghetti.

Isso porque, embora o filme seja ambientado no tempo atual, toda uma carga de “bang-bang à italiana” preenche parte da ação. Esta é a mão de Jee-Woon, notadamente devoto do cineasta Sergio Leone – também ele um ícone de gênero – como se pode ver pela filmografia do diretor.

Xerife de uma pacata cidadezinha que faz fronteira com o México, Ray Owens (Schwarzenegger) trocou a vida de policial na cidade grande pela tranquilidade do interior. Comanda uma equipe de policiais que beiram a ingenuidade, conhece as pessoas pelo nome e passeia de bermuda pela cidade em seu dia de folga.

A paz só é quebrada quando um poderoso narcotraficante em fuga para o México, perseguido pelo FBI e apoiado por um “exército de capangas”, terá de passar pela cidade.

Para impedir a travessia, o xerife e seu limitado efetivo será acrescido de um colecionador de armas meio fora do eixo (Lewis Dinkum) e o namorado de uma policial local, que estava preso por bebedeira e baderna (Rodrigo Santoro).

Com um roteiro primário, situações sem muita explicação e personagens rasos, a primeira metade de O Último Desafio é pobre e quase sem nexo. Amontoam-se cenas de fuga e perseguição mal tramadas, culminando com o fugitivo pilotando um Corvette ZR1 (!) como se não houvesse amanhã.

Ao que parece, toda precariedade de roteiro e trama servem unicamente para a segunda parte do filme, quando a produção finalmente ganha contornos de estilo, atmosfera, ação bem dirigida e humor eficiente.

Recria-se então um gênero dentro de gênero, do cinema de ação dos anos 80 ao faroeste macarrônico. É onde o filme cresce. Está lá a cidadezinha deserta, assim como os bandidos forasteiros que vêm perturbar a ordem, o xerife altivo que se dispõe, mesmo com menor poder de fogo, a enfrentar os fora da lei.

Tiroteios, telhados, metralhadora gatling, colt 45, saloon e até um corpo a corpo com jeito de lucha libre compõem, de modo real ou figurativo, um estilo que o filme trabalha com vigor e comicidade bem colocados.

Mesmo carregado de problemas, O Último Desafio revive durante uma parte de sua duração – e com bastante força – não apenas gêneros entrelaçados, mas também o carisma e o espírito do cinema que fizeram de Arnold Schwarzenegger um ícone. Atributo que, por ora, nem mesmo a idade conseguiu apagar.
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The Last Stand
Kim Jee-Woon
EUA, 2013
107 min.

Trailer

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