quarta-feira, janeiro 23, 2013

Caverna dos Sonhos Esquecidos


Até o momento, apenas três filmes usaram o recurso do efeito 3D de forma verdadeiramente relevante para o que pretendiam mostrar. São eles: As Aventuras de Hugo Cabret, de Martin Scorsese, As Aventuras de Pi, de Ang Lee, e o filme-homenagem Pina, de Wim Wenders, dedicado á coreógrafa alemã Pina Baucsh (1940-2009). Em todos esses casos, a qualidade e o apuro das imagens tridimensionais levaram o espectador a uma experiência que não seria a mesma sem o 3D.

O quarto a filme a poder figurar nesta lista estreia em São Paulo, exclusivamente no Cinesesc, na próxima sexta-feira (25). Chama-se Caverna dos Sonhos Esquecidos e faz da tridimensionalidade virtual uma experiência que vai além da imagem e nos reflete na temporalidade da existência humana.

Realizado pelo diretor alemão Werner Herzog, o filme documenta o interior da caverna Chauvet-Pont-d’Arc, no sul da França. Nesta caverna, cujo acesso é restrito a pouquíssimos estudiosos (poucas horas por dia e poucos dias por ano), estão as pinturas rupestres mais antigas conhecidas pela humanidade.

Descobertas em 1994, estas figuras datam de aproximadamente 32 mil anos, mais que o dobro de qualquer outra pintura conhecida do gênero. Nos desenhos, diversos animais estão registrados com uma qualidade técnica surpreendente.

Agora, graças ao 3D, estas figuras podem ser vistas com uma nitidez rara e um poder de imersão assombroso. Uma experiência visual riquíssima em detalhes, repleta de uma textura cintilante e com uma profundidade de campo poucas vezes proporcionada pelo cinema. Herzog nos transmite um realismo que impressiona não apenas pela qualidade, mas pela importância e grandiosidade do que mostra.

Contudo, o diretor não se limita ao registro documental, que por si só já valeria a ida ao cinema. Ele quer mais que mostrar, quer também contextualizar e nos aproximar mais ainda da experiência de adentrar na caverna.

Através da narração, feita pelo próprio diretor, e com auxílio de alguns efeitos, ele propõe e instiga uma reflexão a respeito da dimensão da humanidade. Cria nessa reflexão uma perspectiva e uma conexão com o passado que se avoluma à medida que tomamos consciência de uma força que remete à nossa ancestralidade enquanto espécie humana. É mais que História ou Antropologia, é um ensaio que passa pelo filosófico e pelo metafísico, mas sem o pedantismo ou o hermetismo do discurso acadêmico.

Herzog foge da armadilha do discurso enfadonho não apenas por preencher suas reflexões com as imagens incríveis da caverna e com depoimentos de estudiosos. Mas também por não partir de afirmações ou certezas, e sim de especulações inteligentes e sensíveis a respeito do que vemos e do que somos.

Mais que um documentário e mais que uma experiência de imersão visual, Caverna dos Sonhos Esquecidos é um filme que trata de dimensão. A intensidade visual de suas imagens serve de suporte para uma investigação cheia de questionamentos a respeito de outras dimensões; a dimensão histórica, a dimensão do tempo, a dimensão da humanidade e até mesmo a dimensão do cinema enquanto registro dessa atemporalidade instigante.

Um filme que parte de incríveis imagens de uma incrível descoberta para refletir e nos instigar a pensar sobre nossa incrível existência ancestral.
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Cave of Forgotten Dreams
Werner Herzog
Canadá/EUA/França/Alemanha/Reino Unido, 2010
90 min.

Trailer

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