terça-feira, maio 22, 2012

Hasta La Vista!

Três deficientes físicos em busca de sexo. Assim pode ser descrito Hasta La Vista!, filme belga que estreia no próximo final de semana. Com clara vocação para comédia, a história é daquelas que parecem saídas da cabeça de algum roteirista pervertido. Mas a verdade é que o filme é inspirado em fatos e personagens reais, provando mais uma vez que a realidade pode ser tão inesperada quanto a ficção.

Philip (Robrecht Vanden Thoren), Lars (Gilles de Schryver) e Jozef (Tom Audenaert) são três amigos inseparáveis que compartilham deficiências físicas. Philip é portador de uma doença degenerativa que limita gravemente seus movimentos abaixo do pescoço, Lars ficou paraplégico após o surgimento de um tumor e Jozef é praticamente cego. Além de jovens e deficientes, compartilham ainda uma terceira particularidade: são todos virgens. E não querem, de modo algum, permanecerem assim.

A oportunidade para solucionar o problema do sexo surge quando um deles descobre que na Espanha, em uma cidade litorânea, existe um bordel especializado em atender deficientes. Como não podem pedir para que seus pais os levem a um bordel, planejam uma viagem só entre eles, de van, acompanhados por um enfermeiro-motorista.

Vencida a resistência inicial dos pais, que acreditam que eles vão fazer uma rota de degustação de vinhos, planejam a empreitada. Mas algo inesperado acontece e o que era consentido se torna clandestino. Em suma, eles acabam indo sem a autorização dos pais, fugidos na calada da manhã. Quem os levará será Claude (Isabelle de Hertogh), que eles achavam tratar-se de um homem, mas é na verdade uma mulher. Uma mulher grande, durona e sem muita delicadeza, responsável por conduzi-los ao “Cielo”, nome da casa de tolerância em Espanha.

Assim, Hasta La Vista! se torna um divertido filme de estrada, mostrando que as limitações dos personagens não os limitam de viver intensamente. O filme é recheado de piadas sobre as deficiências de cada um e são essas as que melhor funcionam. Mas a história não se trata de uma comédia e sim de uma aventura estradeira entre quatro personagens improváveis descobrindo novos sentimentos e prazeres. Como em qualquer filme de estrada, é a viagem e a convivência que os transforma e os revela. Tanto no que eles têm de bom quanto de perverso.

Apesar da boa história nas mãos, o filme escorrega em algumas superficialidades. Uma delas é a forma esquemática com que constrói a relação entre Claude e os três viajantes, apelando até para uma piada clichê e óbvia. Peca também por não desenhar melhor a personalidade de cada um, mantendo-os dentro de alguns estereótipos: o mimado e egoísta, o que sofre com a possibilidade da morte e o delicado sensível. Até pelas boas ótimas atuações apresentadas, os personagens mereciam uma melhor densidade individual.

Também fica bastante ao largo a polêmica que foi levantada pelos personagens reais que deram origem ao filme. Uma discussão sobre o direito dos deficientes físicos de terem uma vida sexual ativa, mesmo que para isso tenham que recorrer ao sexo pago. É essa a bandeira levantada por Asta Philpot, o norte-americano deficiente que iniciou todo um debate sobre o assunto e que inspirou outros deficientes a buscarem sua satisfação sexual.

Porém, independente dos deslizes, Hasta La Vista! traz para a tela uma inesperada aventura sobre rodas, guiada pela aceitação e pelo direito de se viver livre e intensamente, a despeito de condições limitadoras. Como filme de estrada entre amigos, reforça laços de amizade, de cumplicidade e companheirismo. E também de prazer; seja ele o da carne ou o da aventura entre bons companheiros.
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Hasta La Vista!
Georffrey Enthoven
Bélgica, 2011
115 min.

Trailer


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