sábado, março 17, 2012

Anderson Silva: Como Água



Ao final da sessão para imprensa de Anderson Silva: Como Água, alguém disse: “Entrei sem saber nada dele e saio do mesmo jeito”. Neste documentário sobre o lutador brasileiro, a falta de dados biográficos talvez seja a “guarda baixa” que mais chama atenção. Mas quem conhece o histórico de lutas de Anderson Silva sabe que guarda baixa não é um problema para ele, que gosta de baixá-la e exibir sua ágil esquiva. Como Água não se sai tão bem quanto seu personagem, mas dá conta do recado por outras vias.

Para quem não sabe, Anderson Silva é campeão dos pesos médios do UFC (Ultimate Fighting Championship), a entidade mais bem sucedida da história na organização de eventos com lutas de MMA (Mixed Martial Artes). Dentre todos os contratados do UFC, Silva é um dos que mais se destaca. Ele vem ganhando aura de lendário por deter o título de campeão desde 2006 e por já tê-lo defendido em nove ocasiões, todas com vitória; algumas delas espetaculares; outras, polêmicas.

No documentário dirigido pelo estreante Pablo Croce, a falta de um aprofundamento na história e personalidade de Anderson Silva pode decepcionar alguns. Mas Como Água tem uma proposta clara e específica. Trata-se do registro da preparação de Silva para uma luta que se tornaria histórica, contra o americano Chael Sonnen, que aconteceu em agosto de 2010. Não por acaso, o documentário chega às telas poucos meses antes da revanche entre os mesmos lutadores, que deve ocorrer em junho deste ano aqui no Brasil.

Caça-níquel ou não, o filme tem ingredientes para fazer a alegria dos fãs do MMA. E mesmo quem pouco conhece desse universo pode sair da sessão surpreso pelo quanto de cinematográfico houve no desenrolar dos fatos. A começar pela polêmica luta anterior de Anderson Silva que abre o documentário. Por apresentar uma postura desdenhosa em relação a seu oponente, Damian Maia, e por sua atitude pouca combativa, Silva foi duramente criticado pela imprensa. Mas seu maior crítico foi Dana White, o poderoso presidente do UFC, que ameaçou cortá-lo da entidade caso perdesse a próxima luta.

A outra polêmica surgiu justamente de seu próximo adversário: Chael Sonnen. O americano passou a disparar ofensas e provocações contra Anderson Silva, criando um forte clima de animosidade. É com um apanhado desses fatores, mais os bastidores da dura rotina de preparação do atleta para a luta, que se constrói o documentário. E é justamente por ser um “apanhado” que o resultado é bastante irregular.

O filme abre com algum impacto e emoção. Nos introduz de imediato ao fenômeno Anderson Silva logo após uma citação na figura de Bruce Lee, que justifica o título Como Água. Segundo o mítico lutador de Kung Fu, um praticante de artes marciais deve ser como a água, sem forma rígida e adaptável a qualquer situação. Começando com alta voltagem, mostrando nocautes e golpes de Silva. Depois, passa à polêmica, em seguida à preparação propriamente dita. Então começa a cair.

Na verdade, a irregularidade de Como Água é bastante regular. Isso porque o filme vai gradativamente caindo no quesito interesse à medida que vão se inserindo sequências que não acrescentam nada à narrativa e, possivelmente, estão ali para dar estofo à duração do filme (que tem apenas 76 minutos), evitando que saísse como um média-metragem.

O desinteresse que resulta desse miolo do filme é justamente fruto de uma não abordagem mais próxima da figura de Anderson Silva. Uma opção que poderia dar uma interessante perspectiva à narrativa. Ao invés disso, seguem-se rodeios que não levam a nada, passagens que chegam ao ponto da desconexão com o todo do filme. Chegando ao meio, o filme está em baixa, mas então começa novamente a se erguer ao voltar-se para a luta, para o desafio iminente.

Mesmo que o resultado final seja conhecido, a forma como os fatos se deram garantem emoção e têm, sem dúvida, traços de roteiro de cinema. A luta entre Sonnen e Silva torna-se histórica e sua dramaticidade é bem aproveitada pela montagem que culmina com o combate. Neste ponto, Como Água empolga e surpreende.

Para os opositores dessa modalidade de luta, o filme será visto apenas como um pastiche sobre a barbárie dessa competição. Para fãs – ou mesmo expectadores esporádicos – o filme poderá despertar emoções e mostrar como a vida real pode parecer cinema. Nada disso oculta seu oportunismo de momento, nascido da revanche entre os dois oponentes. E também como mais um esforço para ampliar mitificação em torno de Anderson Silva, que cada vez mais extrapola o octógono do MMA para se tornar uma celebridade e um fenômeno midiático.
 --

Like Water
Pablo Croce
EUa, 2011
76 min.

Assista ao trailer 

0 comentários:

 

Eu, Cinema Copyright © 2011 -- Powered by Blogger