sábado, julho 28, 2012

A Vida dos Peixes



A Vida dos Peixes é um filme de textura melancólica, formada por antigas memórias e por uma ausência sentida. A evocação do passado e de uma tragédia, a distância entre amigos. Desta matéria se reveste este drama franco-chileno.

O filme se passa durante uma festa de aniversário e mostra o reencontro de Andres (Santiago Cabrera) com velhos amigos. Vivendo em Berlin, ele trabalha como repórter de turismo e esteve distante por dez anos. Suas viagens pelo mundo o afastaram desses amigos e do passado, ainda que este passado tenha se mantido enraizado dentro dele.

O afastamento foi consequência de uma tragédia, da morte de um amigo, da ferida que isso deixou em Andres. Mas não foi apenas dos amigos que ele se distanciou. Beatriz (Balnca Lewin), seu grande amor da juventude, também foi deixada para trás. Contudo, assim como o passado, também se manteve enraizada em seu coração.

É em torno desse reencontro que a tensão dramática de A Vida do Peixes irá se desenvolver. Beatriz, hoje casada e com duas filhas gêmeas, também ficou marcada pelo que passou e pela ausência de Andres. No reencontro entre ambos, o desconforto aos poucos dará lugar às lembranças e às possibilidades perdidas.

A direção do chileno Matías Bize busca traduzir a tristeza de Andres nos planos que o acompanham pela casa. O aniversário é de um dos velhos amigos e a casa faz parte de sua memória. Nas idas e vindas pelos cômodos, no encontro com pessoas dessa memória, nota-se entre Andres e o espaço uma familiaridade com estranhamento. Tudo é conhecido, mas também distante.

Bize filma muitos planos através de luzes que, desfocadas num primeiro plano, conferem um ar poético às cenas e ao filme. Esta delicadeza poética se confirma na trilha sonora discreta, ainda que um pouco excessiva na repetição. Pautam esta atmosfera semionírica os diálogos em que o silêncio ao redor intensifica um sentimento que mistura culpa, arrependimento e a distância entre todos.

Por outro lado, há no conteúdo de alguns desses diálogos uma ingenuidade que não corresponde à bagagem de vida que trazem os personagens, o que acaba artificializando alguns momentos. Essa falha, porém, se dilui nas ótimas atuações. Em especial, no sentimento revelado pelas trocas de olhares, alguns tão expressivamente bem articulados que dispensariam linhas de diálogo.

Ainda que um pouco esquemático nas suas passagens e por vezes artificial na manutenção de uma situação – como a permanência de Andres na casa, quando logo no início diz que está partindo – este A Vida do Peixes se apresenta como filme delicado, que traz na memória do passado os caminhos desperdiçados, as oportunidades desviadas.

Enxuto na duração, consegue, acima de tudo, manter tesa a corda que sustêm seu drama, nos mantendo ligados aos sentimentos e pesares que recobrem de melancolia sua trama de reencontro doloroso e suave mistério.
--
La Vida de los Peces
Matías Bize
Chile/França, 2010
84 min.

Trailer

1 comentários:

Jorge Ramiro disse...

Esse é um filme muito bonito. Eu gostei muito. Ao contrário dos filmes de Hollywood este filme tem uma trama que é interessante. Tenho alguns restaurantes em moema. E em os restaurantes eu tenho muitos tanques com diferentes variedades de peixes. Peixes de todas as cores. Peixes grandes e pequenos peixes. Muitos peixes.

 

Eu, Cinema Copyright © 2011 -- Powered by Blogger