segunda-feira, janeiro 23, 2012

A Alegria



Felipe Bragança e Marina Meliande
Brasil, 2010
106 min.

Não espere ver em A Alegria um cinema fácil, de sabor conhecido e digestão rápida. Este é um filme que pode demorar muito a ser digerido, ou talvez nunca o seja. É cinema de invenção, expressão que já colou em algumas produções nacionais recentes, obras de uma geração novíssima que se coloca atrás da câmera para revelar um olhar complexo, às vezes pedante, às vezes hermético, mas nunca apático ou conformista. Entre citações mil e narrativas desconstruídas, arriscam. Se acertam ou não, o tempo - talvez a maturidade - dirá.
 
É nesse cinema que se insere A Alegria de Felipe Bragança e Marina Meliande. Uma alegria fabular, de juventude exposta a estímulos desconcertantes, que reverbera esses estímulos em uma fantasia distópica. A obra se propões geracional, caminha á margem de uma narrativa convencional, explora o que seria extra-óbvio em um olhar adolescente do mundo.

Este mundo filtrado é um Rio de Janeiro sem adereços, filtrado de sua beleza natural, observado - e absorvido - na sua crueza intrínseca. Mas poderia ser qualquer outro lugar em que reine o descompasso da violência, do medo, da opressão experimentada no cotidiano. Qualquer lugar em que o bizarro conviva com a normalidade farsesca da vida comum.

Aqui os diretores constroem esta fábula por caminhos de risco. Admitem o filme estranho que colocaram de pé, sabem da resistência que ele terá nas plateias, acostumadas à narrativas menos fechadas.

A proposta, o risco, são sempre válidos. Mas a ausência de ganchos condutores de uma comunicação entre espectador e obra, o fechamento em si mesmo provocado por citações em excesso, a tentativa de autolegitimação de um grupo específico de cineastas em obras de autoreferência prejudicam demais o filme.

Se você sair da sessão sem entender nada, não se ressinta de si. É o normal após uma sessão de A Alegria. Pode-se amá-lo e odiá-lo. Às vezes ao mesmo tempo. É, talvez, a consequência do curioso modo como o filme se encerra. Depois de um arrastado discurso pontuado por referências de um cinema particular, ainda pouco visto, explorado e compreendido, vem o mais belo, o mais sublime, a simplicidade da beleza.

No final, sabemos do filme de super herói que quis fazer seus diretores. É no fim, na cena mais linda, mais fácil de ser amada, que a catarse se realiza, talvez pela primeira vez em todo o filme. E isso poderia, em sua beleza e simplicidade, nortear toda a narrativa anterior. Pena que não é assim.
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