quinta-feira, agosto 25, 2011

Esses Amores



Ces Amours-là
Claude Lelouch
França, 2010
120 min.

O diretor francês Claude Lelouch não faz cerimônia. Logo na abertura de “Esses Amores”, seu mais novo filme, que estreia nesta sexta (26), deixa claro que o filme se trata de uma homenagem; uma homenagem a si mesmo, a seus 50 anos de carreira e a seus 43 filmes realizados. Está escrito na tela, textualmente testamentado, com perdão da aliteração. Assim, enquanto entrelaça uma história de amor e destino – dois temas recorrentes em sua obra -, Lelouch aproveita para citar suas referências. As citações passam por Marcel Carné, Victor Fleming, Jean Gremillion e, claro, o próprio Lelouch.

O filme narra a trajetória de Ilva (Audry Dana) pelo século XX, ou pela parte desse século que mais ficou marcada na história: a Segunda Grande Guerra. Ilva é uma mulher que tem o desejo de amar intensamente. Por isso se apaixona fácil e muito. Ela é fruto de um amor que começou antes da Primeira Guerra Mundial, entre um cinegrafista da empresa Lumiere (dos irmãos Lumiere, inventores do cinematógrafo e do que hoje se conhece como cinema) e uma jovem atriz de filmes eróticos. A guerra levou seu pai antes mesmo que nascesse, a doença e a prostituição levou sua mãe. Na vida, sobrou o amoroso padrasto, dono de um cinema em Paris, onde Ilva foi criada.

Quando a França é ocupada pelos nazistas e a resistência francesa passa a promover atentados contra os alemães, seu padrasto é preso acusado de envolvimento. Prestes a ir para o fuzilamento, para tentar salvá-lo Ilva vai até o comando nazista pedir por sua vida, dizendo que ele é inocente. Mesmo noiva, não consegue evitar a paixão pelo oficial nazista. Um amor cujo preço cobrado será muito alto, levando à tragédia e ao abandono. Incapaz de não amar, o tempo trará a Ilva outros amores, como o triângulo entre ela, Bob e Jim. Dois soldados americanos por quem ela se apaixona e se vê incapaz de decidir com qual dos dois ficar. Mas outra vez a tragédia será a marca deixada por esses amores.

O filme atravessa o século em seus momentos mais críticos. Além de Ilva, nos apresenta uma série de personagens que o destino se encarregará de fazer cruzarem-se entre si, formando uma história de amores trágicos, esperanças perdidas e reencontradas. Lelouch não evita que o filme soe presunçoso e autoindulgente. Mas seu maior problema é a falta de emoção. A narrativa, excessiva nos entrelaçados personagens que cria, dilui sua emoção pela falta de objetividade. Ao dispersar seu foco, dispersa os sentimentos.

Não há como não sentir o drama das vítimas dos campos de concentração, mas tudo é tão superficial, que mal temos tempo de sentir. Não há como não se comover com as tragédias da vida de Ilva, mas elas se sucedem com tão pouca intensidade, que mal temos tempo de comoção. Mesmo o otimismo reencontrado de seu desfecho soa fraco, quase artificial.

Pecando pelo excesso (em citações, personagens e atropelos históricos), “Esses Amores” termina por ser um filme morno. Ao pretender falar de grandes emoções, as coloca como adornos de uma vida de amores do passado com um pouco de esperança no futuro. Quer despertar ou demonstrar paixões, mas estas muitas vezes têm de dar espaço à autocongratulação do diretor, também preocupado em felicitar a si próprio pela obra construída nos anos de carreira. Uma homenagem talvez até merecida, mas que não casou bem com a narrativa e os amores. Nesse caso, a paixão ficou apenas na intenção, com perdão da péssima rima.
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