terça-feira, novembro 02, 2010

Rosa Morena


34ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo
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Rosa Morena
Carlos Oliveira
Brasil, Dinamarca, 2010
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Rosa Morena é um filme que pode ser divido em dois tempos.

Na primeira metade coloca em pauta a adoção ilegal de crianças, seu comércio para estrangeiros. Thomas é um dinamarquês que vem ao Brasil visitar velhos amigos. É recebido com alegria pelo casal, com o qual tem longa amizade. Não demora muito e confessa que deseja adotar um filho. Por ser homossexual, tem dificuldade em fazê-lo na Dinamarca. Desestimulado pelos meios legais, busca orientação de um advogado de ética duvidosa que lhe apresenta outras possibilidades. Nenhuma delas legais. Thomas recusa.

Thomas, na verdade, é um homem em crise pessoal. Engenheiro bem sucedido, questiona a validade de seu trabalho e o que deixará de importante no mundo. Vê na adoção de uma criança uma forma de preencher sua vida, um modo de lhe dar sentido. Buscará meios de conseguir o que quer, chagando ao ponto de, ingenuamente, colocar sua vida em risco.

Na segunda metade o filme terá como base a construção de relações, a dubiedade de sentimentos e o reforço da ingenuidade generosa de Thomas. Envolvido com uma jovem da periferia grávida e sem condições de criar mais um filho, vê a oportunidade de realizar seu sonho. Faz um acordo com a moça, de nome Maria, e com seus parentes e passa a acompanhar de perto sua gravidez.

É nesse momento que o filme cresce. De forma bastante eficiente se vai construindo na tela os laços afetivos que deixarão Thomas cada vez mais próximo de Maria, de seus outros filhos e do bebê que ela gesta. Cria-se ali uma relação improvável, entre o estrangeiro-primeiro-mundo e a jovem pobre da periferia. Neste ponto o filme é muito competente, criando esses laços de forma natural, às vezes até sutil. Porém, logo essa relação ganhará contornos inesperados, levando os personagens a se confrontarem com interesses e sentimentos de certo modo inconciliáveis.

Rosa Morena é um filme correto. Bem realizado, não chega a entusiasmar, mas segura bem a narrativa e a construção dos vínculos entre os personagens. Seu grande destaque é a atuação do dinamarquês Anders W. Berthelsen no papel de Thomas. É dele grande parte dos méritos do filme, pois sua atuação tem a medida exata e consegue transmitir sentimentos sinceros de afeto, tristeza e dúvida.

Se Rosa Morena não chega a ser um grande filme, é sem dúvida um bom filme. Consegue envolver o expectador, leva-lo para dentro da vida de seus personagens. Não apela para o piegas, nem para o dramalhão. É um filme prazeroso de se ver.
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1 comentários:

Paula disse...

Eu assisti o filme em um festival em Copenhagen e me senti mal enquanto eu assistia o filme e especialmente depois, ao ouvir as perguntas dos dinamarqueses dirigidas ao diretor. No momento não consegui entender muito bem o porquê do meu mal estar, mas depois refletindo sobre isso compreendi que o problema desse filme é que os personagens, todos, são completamente construídos sobre estereótipos. O dinamarquês bonzinho, rico e cheio dos valores familiares; a moradora de favela sem estrutura psicológica, desorientada e sem controle de sua libido; a mulher de classe média politicamente correta e por ai vai. Não existe nenhum tipo de aprofundamento sobre os personagens que nos ajude a compreender uma outra realidade, nem a do dinamarquês, nem a dos moradores de favela...Não existe nenhum aprofundamento sobre o lugar favela, o que isso significa, que tipo de cultura e valores são construídos ali. Os personagens são rasos, os lugares rasos, os conflitos rasos. Dessa forma, acho que esse filme só contribui para reforçar preconceitos já suficientemente difundidos sobre "gringos europeus" e moradores de favela.

 

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