domingo, outubro 31, 2010

Mamma Gogo

34ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo
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Mamma Gogo
Fridrik Thor Fridriksson
Alemanha, Suécia, Reino Unido, Noruega, Islândia, 2010
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Em seu início Mamma Gogo parece querer falar da velhice e do tempo. Começa com uma metalinguagem: um cineasta islandês faz a exibição de pré-estréia de seu ambicioso projeto, um filme que fala sobre a velhice e o abandono. Na platéia está sua mãe, a quem dedica o filme.

No desenrolar da narrativa sabemos que o filme vai mal nos cinemas. Ninguém parece interessado num filme sobre a velhice. Endividado, o diretor passa a torcer por uma indicação ao Oscar de filme estrangeiro, o que alavancaria a bilheteria do filme. Em meio às dividas e à crise no casamento, sua mãe começa a ter súbitos esquecimentos, até ser diagnosticada com Alzheimer.

O que parecia ser uma promissora reflexão sobre a terceira idade e a memória, acaba por se perder pela falta de um foco definido. Entre os problemas financeiros e conjugais do protagonista e o aprofundamento da doença de sua mãe, o filme não se coloca numa posição definida e dilui qualquer possibilidade de dramatização.

Essa falta de um objeto definido a ser dramatizado se acentua por uma montagem acidentada. Muitas vezes as cenas parecem mal encadeadas, os cortes não seguem uma fluidez narrativa na construção de algo, causando estranhamento. Esses cortes fora de tempo não funcionam como estética de ruptura, de corte brusco, porque o filme não tem qualquer pretensão de experimento formal. É simplesmente mal editado, fazendo com que as cenas não fluam naturalmente.

Dificulta ainda o “embarque” na história e a empatia com os personagens uma grande impessoalidade no modo de construí-los. Elementos básicos e até triviais numa fórmula de construção de laços entre personagens, como fotografias, lembranças do passado ou diálogos íntimos estão ausentes. Isso torna as relações efetivas entre mão e filho pouco críveis, e trás uma artificialidade para a história. Os personagens carecem, efetivamente, de perspectiva e dimensão.

Agrava ainda mais o péssimo e destituído de emoção trabalho do ator Hilmir Snær Gudnason. Sua atuação é realmente sofrível, incapaz de transmitir qualquer sentimento.

Por fim, depois de se perder entre um foco e outro nos 2 primeiros terços de sua duração, Mamma Gogo finalmente se volta para o drama da velhice, do esquecimento e do delírio. A doente Gogo ganha uma dimensão mais humana em seu drama e o filme ganha uma dimensão de drama na figura humana. Cresce nesse final e quase comove. No entanto, é tarde demais para causar alguma comoção verdadeira e intensa no expectador. Quando o filme finalmente se decide, parece tarde demais para isso.

Termina como uma alegoria da morte, da libertação, do encontro póstumo com a vida. Mas as emoções já se perderam no caminho. O que fica no final é só uma promessa perdida do que o filme poderia ter sido e não foi.
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